24 setembro, 2004



no tempo em que éramos felizes não chovia.
levantávamo-nos juntos, abraçados ao sol.
as manhãs eram um céu infinito. o nosso amor
era as manhãs. no tempo em que éramos felizes
o horizonte tocava-se com a ponta dos dedos.
as marés traziam o fim da tarde e não víamos
mais do que o olhar um do outro. brincávamos
e éramos crianças felizes. às vezes ainda
te espero como te esperava quando chegavas
com o uniforme lindo da tua inocência. há muito
tempo que te espero. há muito tempo que não vens.
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José Luís Peixoto, "A criança em ruínas"

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